segunda-feira, 19 de novembro de 2012

51| Relatórios e cortes.


                    Flávia estava esperando a oportunidade de ficar sozinha, sem que ninguém a incomodasse no quarto. No bolso um pen drive de “clientes”, agora veria o que realmente tinha nele.
                    Depois do jantar disse que faria algumas atividades no quarto, então se trancou e colocou o dispositivo no computador. A curiosidade era grande, mas ela tinha medo por algum motivo.
                    As pastas “Daniel Dead”, “Roberta”, “Thiago”, “Flávia” estavam dentro de uma outra que tinha o nome da Patrícia.
                    _ Gente... “Daniel Dead”, ele ia matar mesmo o garoto? Matar... – falava espantada – Isso era o que a Patrícia queria? Ela gostava dele, não?
                    Tentava encaixar as coisas sem ter visto tudo. Todas as pastas tinham arquivos de texto, com o nome de “relatórios”, ela percebeu que para um menino que tinha um quarto tão bagunçado e vivia de roupas folgadas, era bem minucioso e organizado quando se tratava dos clientes. A primeira pasta que abriu foi a do Daniel, e clicou no relatório.

                    Relatório Operação Daniel Dead – Etapas
                   
  1. Contratação: por Patrícia Vieira
  2. Objetivo: Assustar o garoto.
  3. Observação: Viagem para São Paulo fim de semana. (ela conseguiu essa info).
  4. Ação: Tirar freio do carro. (só? Rsrs não!).
  5. Resultado: Acidente bem sucedido.
  6. Pagamento: Em breve.

                    _ Só isso? Apesar de ser terrível, mas eu pensei que... Sei lá... Isso, até eu faço no computador. Quer dizer que a mula manca queria dar um susto no Daniel. Por quê? Do jeito que ele era bruto com ela, até eu daria uns três tapas, mas fazer isso tudo...  Ser mal educado não é motivo suficiente para fazer umas coisas dessas. Isso é tentativa de homicídio. E o menino perdeu a memória. – viu um vídeo, mas não o assistiu.

                    Relatório Operação Roberta – Etapas.

  1. Contratação: por Patrícia Vieira
  2. Objetivo: Criar pânico na dondoca.
  3. Observação: Namorado nunca sai da casa dela. Aff.
  4. Ação: separá-los e assustá-la até ficar doida. (Ela já rasgou as roupas rasgadas da menina, ela é boa nisso!)
  5. Resultado: em processo.
  6. Pagamento: na entrega do serviço.

                    _ Nossa! Foi ela que rasgou as roupas da Roberta no dia do festival! Que safada! Eu sabia! Sabia! Estou ficando assombrada com isso, mas esse menino, ele morreu, então ela deve contratar outro?

                    Relatório Operação Flávia – Etapas.

  1. Contratação: por Patrícia Vieira
  2. Objetivo: Assustar a garota. (Ela odeia de morte essa aqui.).
  3. Observação: Não sei, ainda não tive tempo, mas ajuda num ong.
  4. Ação: sei lá. Humilhá-la de algum jeito
  5. Resultado: Não fiz, estou sem tempo.
  6. Pagamento: Depois da tosa.

                    _ Filha da mãe! Até eu? – disse colocando as mãos nas madeixas loiras e longas – Coitada dela se mexer comigo.

                    Relatório Operação Thiago – Etapas.

  1. Contratação: por Patrícia Vieira.
  2. Objetivo: Afastá-lo do Daniel de qualquer jeito.
  3. Observação: Foi para São Paulo por ele mesmo! (obs.: O Daniel vai vê-lo em SP, acho que esses dois tem coisa).
  4. Ação: Pensando.
  5. Resultado: -
  6. Pagamento: Depois de serviço

                    _ Ela planejou muita coisa contra a gente! E agora que esse menino morreu? Como vai fazer isso? – se perguntava sem resposta.
                    Voltou para a pasta de Daniel e abriu o vídeo. O garoto de roupas folgadas estava sentado numa cadeira, percebia-se que grava sozinho o vídeo.

                    “Acho que está gravando... Hum! Hum! É... esse vídeo é para ser tipo um diário de bordo das operações que faço e claro, uma prova contra esses idiotas que pensam quem me usam ou vão me ter nas mãos qualquer dia desses. É sempre muito óbvio quando eles me chamam para conversar, afinal quem quer andar comigo porque gosta de mim? Só querem mesmo favores. Então, eu cobro mesmo. Já fiz favores para muita gente que não queria viver com o irmão, se sentia insegura com o namorado, o cara pensava que a mina o traía, enfim foram muitos trabalhos, não para trazer o amor em três dias (Risos), mas para mostrar quem realmente mandava na relação. Esses dias, uma pessoa que... eu gosto muito me chamou para conversar, pensei que pela fossa que ela estava ia querer algo comigo, mas ela não fugiu à regra. Não sei de onde ela tirou que eu gostava dela, mas de um jeito ou de outro a vagabunda soube e usou isso para me pedir. Disse que me daria o que eu quisesse se eu desse um susto num carinha que eu andei observando ultimamente, o Daniel que era namorado dela. Nada me tira da cabeça que esse carinha todo cheio de pose de macho é gay. Ele é todo dado para o lado do Thiago que é amigo dele, e agora ainda mais que esse foi para São Paulo. Eu coloquei umas escutas no telefone dele e de dez ligações, oito são para o amigo que nunca atende, mas ele atendeu uma vez dizendo que sentia falta e blá, blá, blá, que era para um dia marcarem e o Daniel ir visitá-lo. Então descobri que o veado deixou o carro na oficina aqui perto e um dia eu cheguei lá e dei um jeito de arrumar o carro dele, liberei o freio e fiz outras arrumações que me certificaria um belo susto. (risos) O susto foi tão bem dado que o veado ficou de coma e perdeu a memória. Quase matei o brabo! Ainda não recebi o pagamento, mas já liguei para patroa e vamos marcar uma coisinha bem especial para comemorar isso, hoje ela ligou meio fria comigo, deve estar nervosa, será que queria que eu o matasse? Se for, agora não será tão difícil”.

            Flávia estava paralisada. Descobriu que a Patrícia havia mandado o Neo fazer tudo aquilo e ainda o havia matado.
                   _ Meu pai do céu. A mula manca é assassina! – disse com os olhos arregalados.
                    O carro de Daniel estava na frente da casa da Roberta, eles estavam namorando do lado de fora, próximos a porta.
                    _ Está ficando tarde, devo ir. – disse entre os beijos – Mas não quero!
                    _ Vai! Vai! Se não ficará muito tarde!
                    _ Está bem! – beijou a namorada. E partiu.
                    Muitas casas estavam com as luzes ligadas, a do lado, e a da frente também. Roberta viu a sombra que a observava da casa da frente e acenou, a sombra entrou.
                    Entrou em casa, estava cansada e sua mãe já havia chegado, pois sua bolsa estava sobre o sofá. Foi à cozinha, conferiu as portas fechadas e subiu para o quarto passando pelo corredor de cima, certificou que a mãe já estava dormindo, desligou a luz e entrou em seu quarto. A janela estava aberta e o vento esvoaçava as leves cortinas.
                    _ Eu não lembro ter deixado as janelas abertas, mas do jeito que dona Antônia é... Deve ter entrado aqui e viu o quarto abafado...
                    Sobre sua cama as opções descartadas da noite, colocou todas novamente no guarda-roupa, foi ao banheiro tirou a maquiagem, colocou um pijama e deitou. No criado-mudo havia um copo com água.
                    _ Nossa! Que mãe cuidadosa eu tenho! Que lindo! Isso me evita muita coisa! – pensou que não precisaria mais descer para buscar água, então tomou um bom gole e dormiu em seguida.
                    As horas passaram, o vento esfriou, e aos poucos todas as luzes da rua se apagaram, em poucas casas se via a luz da tv refletida nas janelas, mas a luz branca de um quarto ligou e iluminou grande parte de uma arvore que dividia o território de duas casas, e como um gato um vulto cruzou o espaço entre elas.
                    _ Boi... Boi... Boi... Boi da cara preta pega essa menina que tem medo de careta... – a visitante noturna cantarolava a canção sussurrando.
                    Seus movimentos eram sutis e cuidadosos. Acendeu a luz do quarto e olhou com pena a presa que dormia profundamente.
                    _ Dorme Cinderela! Dorme que meia-noite sua carruagem se torna uma abóbora!
                    O quarto já conhecia um ensaio frio e cortante que se seguiu.
                    _ Sua safada ordinária! Voltou com meu homem! Se prepare para sofrer.
                    A tesoura partiu em direção aos cabelos da Roberta, e os fios longos e sedosos voavam com o vento, e sem piedade eram cortados e espalhados pelo quarto. Os cabelos castanhos estavam sendo cortados sem que percebesse e ela era virada de um lado para o outro, mas o sonífero que havia tomado havia a derrubado com força total. Agora seus cabelos estavam estirados e espalhados pelo chão, em sua cabeça o que restou foram tufos de todos os tamanhos.
                    _ Antes as roupas, agora o cabelo! Sai da minha vida e da vida do Daniel. – ainda cortou um último pedaço e saiu – levo esse de lembrança.
                    O sol se levantou devagar como se não estivesse com vontade de sair e foi invadindo lentamente a rua e as casas. A janela do quarto de Roberta ainda estava aberta e o sol iluminou os tufos espalhados pelo quarto.
                    Ela se mexeu na cama e se coçou, estava com cabelo no rosto, num gesto costumeiro passou a mão puxando-o para longe do rosto quando percebeu que o cabelo que puxou não criou resistência em ir mais longe do que deveria. Sem abrir os olhos, soltou o cabelo da mão e pegou novamente na cabeça, apalpou e sentiu o cabelo se soltar. Abriu os olhos arregalando-os, viu seu travesseiro cheio de fios soltos e quando se levantou o chão do seu quarto estava repleto de seus cabelos que foram cortados sem pena.
                    Seus olhos se encheram de lágrimas em abundância quando suas mãos passeavam pelos cabelos que restaram em sua cabeça e os percebeu fora do lugar, no chão, em cima do criado-mudo, na frente do espelho que refletia a imagem de uma garota com aspecto terrível sem os longos cabelos com os quais dormira.
                    _ Nãããããããããããão! – gritou com força, acordando a garota da casa vizinha que sorriu e virou escondendo-se sob o edredom.

Continua...
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

50| O início.

                    Flávia estava assistindo tv na sala quando ouviu um barulho em seu quarto. Não deu muita importância, mas o barulho voltou. Ela se levantou e foi ver o que estava acontecendo, a janela do seu quarto estava fechada, mas parecia que a luz entrava de qualquer jeito. Não havia nada.
                    Seguiu em direção ao banheiro e nada, quando voltou ao quarto uma sensação estranha a tomou. Um pavor e um medo repentino fizeram seus pêlos arrepiarem, na cama um jovem estava sentado, trajava roupas largadas e um boné de aba reta, sua cabeça estava baixa com se quisesse esconder o rosto.
                    “Como esse cara entrou aqui?” – se perguntou.
                    _ Eu não vou enquanto não resolver isso. – ele disse. Sua voz era estranha parecia que reverberava num outro ambiente, menos naquele quarto, era muito audível.
                    _ Quem é você e o que faz no meu quarto? – apesar do medo, a voz de Flávia saiu firme.
                    _ Ele não morreu. Eu fiz minha parte do jeito que pediu e o que ganhei? – em tom lastimoso.
                    Flávia não entendia nada, mas sabia que aquele rapaz estava com raiva e parecia arrependido.
                    _ O que você fez? – tentava descobrir.
                    Flávia olhava fixamente para o rapaz tentando ver quem era, o que via de seu rosto era a brancura sepulcral que não era natural. Ele, sem levantar muito a cabeça, olhava de um lado para o outro e não parava de tentar limpar algo que escorria do nariz.
                    _ Meu quarto... Meu quarto é uma bagunça. Meu quarto não é assim.
                    _ Quem é você? – ela insistiu.
                    Parecia que ele não a notava, ela pensou em se aproximar, mas suas pernas não se moviam.
                    _ O que faz aqui? O que faz aqui? – ela foi mais incisiva.
                    Ele para de olhar para os lados, e levantou a cabeça para encará-la.
                    _ Neo! – constatou arregalando os olhos.
                    O rapaz tinha os lábios e as pontas dos dedos azulados, seu olhar estava profundo, não era o mesmo. Do seu nariz escorria um líquido espesso que Flávia considerou sangue, e em seus pulsos marcas de cordas.
                    _ Vim resolver uma coisa. – ele disse.
                    _ O quê? - disse assustada.
                    _ Era só um susto. E foi. Vim parar aqui por nada. Caí numa cilada? Ele está vivo. E eu?
                    _ Quem está vivo?
                    _ Quero justiça.  Só fiz porque achei que ela fosse gostar e assim me amaria.
                    _ Ela quem?
                    Ele limpou o líquido do nariz e voltou a olhar para o quarto.
                    _ Meu quarto não é assim. Ele é todo bagunçado, mas o vídeo está lá. Se ela soubesse o que fiz...
                    _ Vídeo? Que vídeo?
                    _ Me enganou direitinho... – começou a chorar – Mas vou arrumar isso. Mas preciso começar pelo meu quarto. Meu quarto...
                    Acordou suada.
                    Alguns dias depois, o clima em Pedra Branca estava ameno, o céu estava claro sem muitas nuvens e o sol passeava entre elas. Flávia voltava de uma reunião que participara de uma ONG, com ela voltava a Ana, uma colega que trabalhava com ela na ONG, e Mariah.
                    _ Gostei da reunião hoje!
                    _ Menos daquele idiota do Frederico, que nunca concorda com o que digo, que estúpido. – disse Mariah.
                    _ Sei! Estúpido é? Como se a gente não conhecesse essa história, não é Ana?
                    _ Nada a ver. Ele é um idiota. – disse Mariah.
                    _ Um idiota muito gatinho. Ai se eu tivesse um idiota daquele para mim... – disse Ana.
                    _ Ei!
                    _ Está vendo Aninha, achou ruim. - Flávia disse rindo.
                    _ Vem aqui em casa hoje, mais tarde? – disse Mariah parando, pois sua casa era a primeira.
                    _ Fazer? – perguntou Flávia.
                    _ Nada, não é amiga, só conversar.
                    _ Ah, infelizmente, não posso. Tenho um compromisso.
                    _ Ah! E você Flavinha?
                    _ Não sei, vou ver e assim que der te falo.
                    _ Está bem, mas avisa para eu fazer umas coisas.
                    _ Ok. Beijos!
                     Mariah seguiu para casa, enquanto as outras continuavam o caminho. Estavam sem assunto quando o sonho veio a cabeça de Flávia.
                    _ Esses dias, você acredita que eu sonhei com o... Como é o nome?
                    _ O quê?
                    _ O nome do rapaz que foi encontrado morto lá...
                    _ Ah! O Neo...
                    _ Sim! Sonhei com ele, sentado em minha cama, foi assustador... Ele estava todo angustiado e... Foi horrível. Até comentei com a Roberta, mas ela pensou que posso ter ficado impressionada.
                    _ A mãe do Neo precisa de ajuda. – disse a colega do nada.
                    _ Como assim?
                    _ Ela vai se mudar da cidade. Pensa que pode estar sendo perseguida. Coisa de família. Eu ajudá-la na mudança.
                    _ Quero ajudar, posso? – perguntou Flávia.
                    _ Claro! Você os conhece? – perguntou Ana.
                    _ Sim! A mãe dele passava sempre lá em casa vendendo verdura.
                    _ Está bem, hoje à tarde, vamos lá.
                    _ Ok. Nos encontramos na porta dele.
                    Mais tarde se encontraram no local combinado. A fachada da casa de Neo era simples, nada demais poderia se esperar de uma casa muito deteriorada, e sem muitos cuidados.
                    _ Dona Lindinalva, nós chegamos! – disse Ana batendo na porta.
                    Um barulho de dentro da casa se aproximou da porta que abriu. Uma senhora, que tinha no rosto as marcas do tempo, olhou as garotas e as deixou entrar. A sala estava cheia de caixas, mas ainda tinha muita coisa para ser guardada, Flávia não sabia que numa casa daquela caberia tanta coisa.
                    _ Obrigada por terem vindo me ajudar. O pessoal já foi para outra cidade, mas fiquei porque não queria deixar nada para trás. – disse como uma voz rouca de tantos anos gritar na rua as verduras e legumes que vendia.
                    _ Esta é a...
                    _ Flávia, - cortando a apresentação de Ana - filha do Ronald e Francisca, os conheço. Tudo bem?
                    _ Sim! A Ana disse que viria ajudá-la arrumar as coisas, então me dispus a vir. Se não incomodá-la, é claro?
                    _ Não, não! Você não me incomoda em nada.
                    _ Então vou começar pela cozinha. – disse Ana.
                    _ Tem uma coisa que não sei mexer, são aquelas coisas de computador... – a velha parou um instante, lembrou-se do filho – só ele mexia lá.
                    _ A Flávia pode desmontar para senhora, você sabe não é Flávia? – disse Ana.
                    _ Sim, claro! Posso sim! Onde está? – disse Flávia.
                    _ No quarto. No quarto dele. – disse a senhora.
                    Flávia tremeu porque lembrou do sonho.
                    _ Vou lá então.
                    Flávia entrou no quarto escuro, viu uma abertura na parede. Andando com dificuldade, conseguiu chegar até a janela e a abriu.
                    Era um quarto lotado. Uma computador de última geração no canto do quarto, revistas de jogos espalhadas pelo chão, era muita bagunça, as roupas estavam fora do lugar, algumas meias sujas. Havia caixas de tênis empilhadas num canto da parede e pôsteres de bandas.
                    _ Já vi que vou ter muito trabalho. – disse Flávia.
                    A arrumação foi bem penosa, muitos objetos que Flávia nem imaginara que aquele rapaz pudesse ter, coisas caras e aos montes. “Como conseguira aquilo tudo?” – ela pensava.
                    As perguntas sempre vinham acompanhadas de respostas que ela mesma supunha.
                    “Claro que são resultado de seus trabalhos sujos que todo mundo sabia que ele fazia”. – pensava quando viu um pen drive com uma etiqueta “Clientes”.
                    _ Uau! – sussurrou mirando o objeto.
                    _ Flávia? – a voz de Ana vinha chegando, quando rapidamente colocou o pen drive no bolso. A colega apareceu na porta. – E aí?
                    _ Estou impressionada com tanta coisa que esse garoto tinha. – disfarçou.
                    _ E nem parecia não é? – Ana falou baixo. – Quer ajuda?
                    _ Não! Não precisa. Eu dou conta. Vou começar a desmontar o computador e aí se ficar alguma roupa aqui você pode pegar, porque provavelmente não dará tempo disso tudo. – se deu conta de que se contradisse – ah! Você entendeu.
                    _ Sim! – saiu rindo a amiga.
                    Flávia a observou entrar na cozinha e ligou o computador enquanto fingia desmontá-lo, pegou o pen drive e o conectou. As pastas se abriram, e uma lista de nomes conhecidos e desconhecidos apareceu. Flávia leu alguns nomes, mas um lhe chamou a atenção.
                    _ Mula manca? O que ela faz aqui? – olhou para fora do quarto para se certificar que não vinha ninguém, abriu a pasta “Patrícia_s2” – Meu Deus do céu!
                    Dentro da pasta, havia alguns arquivos de fotos e mais outros com os nomes “Daniel Dead”, “Roberta” “Thiago” “Flávia”.
                    _ Ana! – Flávia a chamou no quarto depois de ter desligado e desmontado tudo rapidamente. – Infelizmente vou ter que ir. Minha mãe me ligou dizendo que precisa urgente de mim.
                    _ Tudo bem Flavinha. Você já fez muito.
                    Saiu sem se despedir da velha.
                    No supermercado, Ricardo e Roberta faziam compras.
                    _ Quero te falar uma coisa.
                    _ Fala querida.
                    _ Eu vou visitar o Daniel.
                    _ O quê?
                    _ Eu estava na hora do acidente, e devo isso a ele.
                    _ Nada a ver! Você não precisa fazer e muito menos deve nada a ninguém. Pelo contrário, ele quem te deve.
                    _ Deixa de idiotice, é só uma visita.
                    _ Idiotice? Você acha que sou um idiota por não querer ver minha namorada visitando seu ex.
                    Roberta respirou fundo como se puxasse paciência.
                    _ Ricardo, eu acho que você só está sendo um pouco imaturo para encarar que um acidente aconteceu, eu estava presente e que independente dele ser ou não meu ex eu deveria visitá-lo.
                    _ Agora sou eu o imaturo. Quando aquele idiota armou contra a gente, foi eu que tomei a decisão imatura de desistir de quem amava sem primeiro conversar ou nem sequer ouvi-lo. – aumentou o tom de voz, ligeiramente irritado. Algumas pessoas no corredor olharam e despistaram.
                    _ Você disse que havia me perdoado por isso... – ela disse magoada.
                    _ Eu perdoei, mas não esqueci.
                    Ela o olhou ainda mais magoada ainda.
                    _ Vai ficar jogando na minha cara uma escolha errada que eu fiz?
                    _ Não. Você não merece isso.
                    _ Por que você está assim agora?
                    _ Você não para de falar desse idiota?
        _ Ricardo, ele é só meu amigo, não tem nada a ver.
_ Amigo? Amigo? Era para ele ter...
                    _ Como assim? O que você quer dizer com isso?
                    _ Nada...
                    _ Ricardo, foi você que... Não acredito! – disse Roberta.
                    _ Não! Claro que não! Você está louca! Jamais faria isso.
                    Daniel acabava de entrar no supermercado. A garota o viu de relance se aproximar deles sem que os reconhecesse.
                    _ Eu quero muito te explicar uma coisa, mas você tem que acreditar em mim. – disse ela olhando nos olhos dele e olhando para Daniel que se aproximava - Confia em mim, pelo amor de Deus.
                    _ Explicar o quê? Do que é que você está falando? – perguntou sem entender.
                    Quando Daniel chegou mais perto a viu e a cumprimentou discretamente, pois viu o namorado. Ela fez o mesmo para que Ricardo percebesse, mas se insinuou demais.
                    O rapaz loiro olhou para trás e viu o oponente ainda rindo com a mão levantada acenando, a qual baixou ligeiramente, pois sabia do ciúme dele para com Roberta.
                    Ricardo, diante da acusação de Roberta sobre sua imaturidade, procurou manter-se calmo.
                    _ Vamos! – disse ele.
                    _ Espera. Vou ali falar com o Dani.
                    _ “Dani”?
                    Quando ela passou por ele em direção ao Daniel, Ricardo a segurou com força pelo braço.
                    _ O que é isso? – o sorriso dela passou de simpatia para reprovação.
                    _ Eu quem pergunto: O que é isso? Acha que sou idiota? – perguntou sério.
                    _ Me solta , você está me machucando. – disse com cara de assustada.
                    Quando ela percebeu que ele ia soltá-la, puxou o braço.
                    _ Me solta. – falou mais alto.
                    Daniel se aproximou.
                    _ Roberta, tudo bem aí?
                    _ Ninguém te chamou na conversa. – Ricardo perdendo o controle.
                    _ Perdão, não falei com você. – desviou a atenção para a moça.
                    _  Mais ou menos. – ela disse.
                    _ Você sempre aqui para atrapalhar minha vida. Por que isso Daniel? Por quê?
                    _ Ricardo, não tem nada a ver. – disse Roberta.
                    _ Você estava quase agredindo a moça! – Daniel a abraçou e Ricardo não se conteve mais. Empurrou Roberta para um lado e socou o rosto de Daniel.
                    _ Para! Para Ricardo. – Roberta tentou separá-los, mas Daniel se jogou em cima de Ricardo e bateu no ouvido dele. Os seguranças do supermercado chegaram e os afastaram.
                    _ Se afasta de minha namorada.
                    _ Cala a boca! – gritou Roberta. – Sai daqui. Vai para casa. Vai! Vai!
                    _ Você vai ficar com ele? É com ele que você vai ficar? – ele esbravejava e o supermercado estava assistindo a cena.
                    _ Vai para casa Ricardo. – dizia ela.
                    _ Vocês se merecem, não sei como pude acreditar em você. – as lágrimas desceram pelo rosto do loiro e desapareciam na barba. – Você ama escolhas erradas. Acho que sou um idiota sim!
                    Saiu correndo e chorando.
                    _ Obrigado seguranças. – virou –se para Daniel – Você está bem?
                    _ O que ele tem? – perguntou Daniel com a boca sagrando.
                    _ Acho que ele ficou nervoso porque acabei de terminar com ele.
                    Daniel esqueceu do sangue que escorria da boca.
                    _ Sério?
                    _ É... – fingindo não ver a empolgação do rapaz, começou a limpar-lhe a boca com um lenço. – Você está bem?
                    _ Estou.
                    _ Eu agora tenho que voltar para casa agora, depois eu passo em sua casa. Até mais. – levantou-se, puxou o carrinho e saiu.
                    Daniel sorriu e procurou o que tinha que comprar no supermercado. O telefone tocou e ele atendeu uma ligação.
                    _ Alô!
                    _ Sr. Daniel, quem fala é o Alfredo, advogado que você contratou para aquele caso.
                    Daniel não fazia ideia do quem era e do que estava falando, mas fingiu entender.
                    _ Sim! Como estão as coisas?
                    _ Boas notícias. Os criminosos foram encontrados, reconhecidos e presos.
                    _ Sim! E?
        O advogado esperava um agradecimento pelo esforço, mas prosseguiu.
        _ Tenho um relatório completo do caso.
                    _ Me mande por email com os honorários.
                    _ Ok!
                    _ Do que é que ele está falando? – Daniel não entendeu nada.
                    Depois que comprou o que precisava, uma sms do mesmo número que havia ligado dizia que o email já havia sido encaminhado.
                    Daniel entrou no quarto e sentou-se em frente ao computador para ver o e-mail do tal advogado, mas o celular tocou novamente.
                    _ Nossa! Você não pára! – olhou e viu o nome de Roberta. – Oi!
                    _ Olá! É... Eu estou ligando para pedir desculpas pelo comportamento do Ricardo, ele é muito imaturo.
                    _ Esqueça-o. Você está bem?
                    _ Sim! Eu fico pensando o que deu em mim para namorar um cara tão imaturo.
                    _ A falta de alguém melhor.
                    _ Foi isso que pensei.
                    _ Talvez agora isso não seja mais problema.
                    _ Você lê meus pensamentos.
                    _ Quer sair comigo?
                    _ Ah! Não sei... Acabei de terminar, não sei se pega bem.
                    _ Como amigos, claro!
                    _ Ah! Assim tudo bem!
                    _ Te pego hoje à noite!
                    _ Ok! Estou esperando.
                    Ele deitou-se na cama sorrindo como se estivesse no céu. Ela mudara muito. Talvez nunca o esquecera e usava o Ricardo apenas para tentar tirá-lo da cabeça. Agora seria dele de novo.
                    “O amor sempre vence!” – ele pensou.
                    Parecia que o resto do dia havia se arrastado e enfim a noite chegou. Daniel passou de carro na casa de Roberta, observou que as luzes da casa do Ricardo estavam acesas, então se aproximou devagar.
                    _ Que bom que veio. – Roberta disse ao sair rapidamente de casa.
                    O carro arrancou e uma sombra na casa da frente entrou.
                    No restaurante que tinham o costume de almoçar quando namoravam se olhavam sem parar, Daniel criou coragem e pegou na mão da Roberta que não resistiu.
                    _ O Thiago me contou o que fiz com você. – ele queria mesmo sem memória colocar tudo em pratos limpos.
                    _ Dani, não é necessário lembrar disso. O passado não importa mais. – dizia calma.
                    _ Não! O que fiz foi realmente inescrupuloso e sem coração, não me importei com o que você sentia e não sei como pagar pelo sofrimento que te causei.
                    _ Não quero falar sobre isso. – já se sentia afetada e tinha medo de desistir do que pretendia então o beijou repentinamente tirando o fôlego. Ele ficou sem resposta.
                    _ Uau. Está do mesmo jeito. – ela disse.
                    _ Quero mais. – ele disse beijando-a com desejo. – Namora comigo?
                    _ Não sei. Você pode me deixar de novo.
                    _ Jamais. Fui louco em te deixar.
                    _ Promete?
                    _ Prometo!
                    _ Então é sim!
                    Roberta estava feliz.
                       
Continua...
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domingo, 11 de novembro de 2012

49| O casamento.

                    _ E então? – ele olhava sorrindo para ela.
                    A música parou, todos pararam para ver o pedido que estava sendo feito no meio do salão.
                    _ Sim! – sussurrou primeiramente e depois disse mais e mais alto – Sim! Sim! Eu aceito.
                   Uma música começou a tocar. Ela percebeu que era uma versão romântica da música eletrônica que tocava na primeira vez que se encontraram na boate.
                    _ Nossa música, pensei que não iria lembrar nunca. – seus olhos se encheram de emoção e então estendeu a mão.
                    _ Sua beleza quase que não deixa que eu a lembrasse, mas ela diz tudo o que eu quero que você saiba.
                    Ele, ainda abaixado, colocou a aliança no dedo anelar direito. Ela fez o mesmo. A multidão aplaudiu. Eles se beijaram apaixonadamente.
                    Alguns amigos vieram cumprimentá-los, e depois de algum tempo quando estavam saindo, Guillermo disse:
                    _ Não vou para casa hoje, está bem! Fique à vontade!
                    _ Obrigado, mas não tem problema pode ir.
                    _ Sério? Então, está bem. Então, vou bem mais tarde!
                    Eles saíram, enquanto Guillermo dançava na pista.
                    Ainda estava cedo, saíram abraçados pela calçada, havia uma grande praça duas ruas acima da avenida onde estavam.
                    _ Gostou da surpresa? – disse ele rindo.
                    _ Você quase me matou! No meio daquele povo todo. Nossa!
                    _ Ficou com vergonha?
                    _ Não, mas ah! Nem sei. É muita emoção para pouco coração.
                    Thiago virou de frente.
                    _ Eu te amo. E muito, sabe? Chega doer...
                    _ Eu também te amo demais! Mas não sei o que fiz para merecer tanto amor.
                    _ Eu sei... Você nasceu.
                    Se beijaram demoradamente.
                    _ Serei a mulher mais feliz do mundo com você, mas antes de tudo preciso te contar um segredo porque não quero que nosso casamento seja baseado em omissões. – ela ficou séria.
                    _ Claro! O que foi? – ele ficou sério também.
                    _ Eu já tenho dois filhos. – disse ela olhando para o chão.
                    _ Oi? – disse ele sem disfarçar a surpresa.
                    _ A Ana e o Dan.
                    _ Por que você não me falou isso antes? - tentou mostrar-se compreensivo, mas a revelação tinha abalado a decisão, não por ela mesma e sim pela omissão.
                    _ Fiquei com medo de te perder...
                    _ E o que me impede agora?
                    _ Nada. – um sorriso brincou no canto da boca.
                    _ Não me importo. Eu te amo mais, e seus filhos serão meus filhos.
                    _ Você é lindo, assumiria tudo isso por mim.
                    _ Não posso perder a chance de te ter só para mim.
                    Ela ficou em silêncio.
                    _ O que foi?
                    _ Tem mais uma coisa – disse com a cabeça baixa, parecia rir.
                    _ Está bem! – respirou fundo – Dois filhos e o que mais?
                    Ela o olhou de baixo para cima.
                    _ É mentira!
                    _ O quê? – disse confuso.
                    _ Não tenho filhos! – riu – Você precisou ver sua cara de assustado!
                    _ Não acredito que você mentiu para mim desse jeito, com essa cara limpa!
                    _ Desculpa amor, mas você foi tão fofo! – abraçou-o – Me ama tanto que assumiria meus filhos. Acho que tirei a sorte grande.
                    _ Você é doida! Eu quase ia terminar tudo. – brincou – Não sou tão perfeito...
                    _ Meus filhos serão teus, mas não por agora. Quero te aproveitar ao máximo.
                    _ Isso que mais quero. Quando vamos casar?
                    _ Não sei... Que tal agora?
                    _ Agora?
                    _ É!
                    _ Sem ninguém ver?
                    _ E quem disse que não há alguém vendo? A natureza, Deus, o universo são nossas testemunhas.
                    _ Sim.
                    Numa praça histórica, ele se ajoelhou novamente e tirou a aliança do dedo direito dela.
                    _ Eu, Thiago Allexander Villani, prometo-te ser fiel, honrar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na enfermidade, na riqueza e na pobreza em todos os momentos da minha vida. – jurou olhando diretamente para os olhos encharcados de lágrimas da moça. Colocou o anel no dedo anelar da mão esquerda. Beijou-lhe a mão e levantou.
                    Ela, para a surpresa dele, ajoelhou, tirou do dedo direito a aliança e a pôs no da mão esquerda.
                    _ Eu, Júlia Carolina Rodrigues Brandão, prometo-te ser fiel, honrar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na enfermidade, na riqueza e na pobreza em todos os momentos da minha vida. – sorriu entre lágrimas e se levantou.
                    Não existia nada ao redor, estavam imersos neles mesmos, e se o mundo acabasse ali, o amor que sentiam uniria suas almas em uma para a eternidade. Beijaram-se e algumas pessoas que passaram admiraram a cena.
                    _ Você nunca fez isso comigo! – resmungou uma senhora que passava com o marido que fingiu não ter escutado.
                    _ O amor é lindo! – um grupo de jovem gritou do outro lado.
                    _ É um sonho? – Júlia perguntou.
                    _ Não, não é! É nosso casamento.
                    Sem saber mais o que falar, Thiago a puxou pela mão e a levou para o carro. Seguiram para o apartamento. Era tanta química que no corredor se beijaram e iam se batendo nas paredes em direção a porta. Antes de entrarem no apartamento, Thiago a levantou no colo e passou pela porta.
                    _ Cuidado com a calda do meu vestido. – ela brincou.
                    Ele chutou a calda invisível, e a levou para o quarto, foi correndo trancar a porta, ligou o som ambiente e entrou no quarto. Ela estava sentada e o chamou, ele desabotoou a blusa lentamente para provocá-la, não tirava os olhos dela, passava a mão sobre o corpo e a luz fraca do quarto evidenciava a pele arrepiada.
                    _ Nossa mãe! – disse ela com os olhos vidrados.
                    Ele continuava a instigá-la com olhares e gestos sensuais, começou a tirar a calça, quando de repente se desequilibrou e caiu no chão. Ela arregalou os olhos.
                    _ Oh meu Deus! Machucou? – segurando o riso.
                    _ Não! - ele levantando prontamente e rindo à vontade – Está tudo bem vamos continuar.
                    Ela ria , enquanto ele se livrava da calça.
                    _ Ai pai! – suspirou ela.
                    _ O que foi?
                    _ Isso tudo será meu? – referindo-se ao corpo do modelo que era valorizado pela luz suave do quarto, seus contornos eram obras-primas.
                    _ Não! Já é! – subiu na cama e a beijou, começando a tirar-lhe carinhosamente a roupa.
                    O clima no quarto esquentou. Os beijos e afagos, arrepios e amassos seguiam intensos. O suor corria pelas costas de Júlia, Thiago a beijava com sofreguidão.
                    _ Eu te amo. – disse ele, ofegando.
                    _ Eu te amo – ela respondeu sussurrando – muito.
                    Estava selado.   

                   
Continua...
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