sábado, 15 de dezembro de 2012

52| Soluções


           Roberta viu as mechas de seus cabelos voarem pelo quarto e ficou atordoada sem saber o que fazer. Sua mãe havia saído, e se viu só. Em sua cabeça havia vários tamanhos de cabelos que foi cortado de maneira tosca e cruel, nenhum profissional conseguiria recuperar em um corte decente o que sobrara.
            Com a mão tremendo ligou para Flávia que chegou rapidamente e se assombrou com o que viu, ela já sabia quem tinha feito aquilo, mas tentou não falar nada.
            _ Como isso aconteceu, gente? – Flávia perguntou.
            Roberta, que já tinha chorado aos montes, estranhou a amiga que ao invés de culpar alguém o que normalmente aconteceria, se perguntou por quem.
            _ Você não tem nenhuma suspeita? – disse Roberta que não conseguia parar de pegar nos tufos sobreviventes e chorar sobre eles.
            _ Não sei! – começou a andar pelo quarto como se procurasse algo – Você dorme de janela aberta?
            _ Não! Só hoje, é que eu ia fechá-la antes de dormir, mas o sono me venceu e aí dormiu aberta, mas isso não acontece, com freqüência.
Ela recebeu uma mensagem no celular. Era Daniel.
            Flávia olhou para casa vizinha e balançou a cabeça negativamente.
            _ Eu tenho uma coisa para te contar. – disse olhando seriamente para a amiga.
            _ E eu como vou encontrar o Daniel desse jeito? Eu não posso perder tudo que consegui fazer por causa disso. Eu juro que mato quem fez isso, mas não sei como posso descobrir.
            _ Eu também, mas antes vamos arrumar esta bagunça e ir direto para um salão. Vamos arrumar uma peruca até esse cabelo crescer. Você sobreviverá de perucas e lenços.
            Roberta não tinha atitude, estava acabada, sua auto-estima estava espalhada pelo quarto, e seguiu a amiga para um salão de beleza.
            _ O que você disse que queria me falar? – perguntou Roberta a caminho do salão.
            _ Eu descobri uma coisa importante. – disse séria – Sobre a Patrícia.
            _ Patrícia? – sorriu Roberta – Acho que é a primeira vez que ouço você falar o nome dela.
            _ Ela nos matará, mesmo se falarmos o nome dela ou não.
            _ Está assistindo muito a Harry Potter. – ria tentando esquecer o cabelo.
            Flávia não riu. Sabia que a Patrícia estava diferente, e mais perigosa. Antes eram somente tramas de colégio, armações de disputas adolescentes, mas agora tudo estava diferente.
            _ O que foi amiga? Está séria, nem riu da piada.
            Chegaram ao salão.
            _ Te explico depois.
Daniel já havia acordado, e estava sorrindo como se tivesse ganhado um presente. Esquecera de tudo que aconteceu porque agora estava namorando a Roberta novamente.
_ Ih! Tenho que ir ao futebol no clube. O pior é que não sei se vou lembrar de todo mundo, mas reintegração é importante. – fez uma cara de tédio – Acho que sou o paciente mais bem aplicado.
Arrumou suas coisas para sair, e ao chegar no clube ninguém chegou para cumprimentá-lo.
_ Já estou vendo que sou bem querido aqui. – disse para si mesmo.
Durante a escolha do time, ficou de fora porque estavam sobrando pessoas e os times tinha sido completados, então ficou como reserva.
_ Eu não queria jogar mesmo, mas desse jeito não dá para socializar com ninguém. Eles nem fazem questão de nada. – levantou-se para ir a lanchonete, decidiu que não jogaria mais – Imaginem o que farão comigo se eu entrar no jogo, quebraram minha perna. Não têm pena de um desmemoriado.
Quando estava atravessava o lado de uma arquibancada aberta para chegar a lanchonete, recebeu uma bolada na cabeça que o fez ficar tonto e desequilibrar.
_ Wow! Desculpa aí cara! – um jogador veio correndo porque o viu sentar, devolveu a bola fazendo sinal para que outro o substituísse – Não foi minha intenção, claro!
_ Não! Não tem problema. – disse de cabeça baixa tentando se recuperar o mais rápido possível.
_ Você está bem?
_ Sim! Só um pouco tonto agora, mas talvez isso me ajude a recuperar a memória que perdi. O médico disse para eu não tentar esse tipo de método, mas não disse para os outros.
_ Ah! Você é o rapaz que...
_ Sim! – previu o que viria, levantando a cabeça para encarar o jogador – Sou o rapaz que sofreu o acidente e perdeu a memória. Não toda memória, claro! Só a parte ruim!
_ Prazer! Sou Henrique!
_ Oi! O meu é...
_ Daniel! Eu sei. Na realidade quem é que não sabe, não é?
_ É! Daniel! – foi se levantar, mas se desequilibrou, sua cabeça começava a doer. – Você chuta forte, não é?
_ Desculpa! Fui salvar o gol e você entrou na frente, aí era tarde demais.
_ Não vem não, Henrique? – gritou um companheiro do banco.
_ Não! Não mais, vou ter que parar agora, só na próxima! – gritou para o companheiro e voltou-se para Daniel – Eu te levo aonde ia, você parece tonto.
_ Nem me conhece e já chega fazendo graça. – disse como se estivesse chateado – Só tenho a cara, mas não sou.
_ Ah! Não é isso! Desculpa se me fiz entender mal.
_ De dez palavras que você fala, oito são desculpa! É melhor não falar mais nada.- riu - Eu vou a lanchonete.
_ Vamos lá! Não quero ser processado por não ter prestado socorro.
Na lanchonete, o Daniel se dirigiu ao balcão para pedir e o Henrique ficou sem saber o que fazer.
_ Ei! – disse Daniel vendo que ele não entrara - Não vai comer nada?
            Henrique fez uma careta como se fosse dizer não, mas aceitou.
            _ Vou tomar um suco então!
            E entrou.
            _ Eu nunca te vi por aqui. – disse o jogador que acabara de sentar-se à mesa próxima a uma coluna.
            _ Eu não vinha aqui com muita freqüência, minha mãe que me disse, mas jogava bola e acho que o pessoal só me aceitava por estima a meu pai, só pode.
            _ Você era tão anti-social assim? Não parece.
            _ Não é? Às vezes me impressiono com a reação das pessoas que me vêem e penso que eu era realmente terrível.
            _ O que você faz, Daniel?
            _ Era futebol, mas o povo nem olha para mim...
            Henrique riu.
            _ Não moço! Quero saber se estuda, trabalha, essas coisas.
            _ Ah! Estudo e vou prestar vestibular para relações exteriores.
            _ Legal! Eu faço educação física e como louco que sou não perco a chance de praticar algum tipo de esporte nas horas vagas.
            _ Vive para o esporte.
            _ Sim, intensamente. Principalmente os radicais.
            _ Eu só vou a academia. Eu não me lembro da última vez que pratiquei outro tipo de exercício.
            Riram. Daniel estava gostando da companhia do Henrique. Era uma coisa que ele estava precisando de um amigo, já que Thiago estava em São Paulo e não tinham tanto contato.
            _ Nossa vida pode ser muito mais saudável e muito mais divertida fora da academia também.
            _ Que tipo de esporte você pratica?
            _ Todos que eu posso e tenho oportunidade. Rappel, Bung Jump, pára-quedismo, trilha, gosto dos esportes de natureza, e quando não costumo sair procuro a natação, vôlei e outros.
            _ Nossa! Como você consegue tempo para tudo isso?
            _ Não faço todos sempre, só quando há oportunidade.
            _ Acho muito legal.
            _ Se quiser, a gente marca um dia para ir numa trilha...
            _ Sério? Eu acampava antes, vi que tenho umas coisas de acampamento lá em casa, mas nada profissional.
            _ Já é um começo, mas tem que ter disposição.
            _ Eu tenho... Eu acho!
            _ Então vamos marcar.
            _ Vamos sim!
            Roberta saía do salão com novos cabelos e pequenos, parecia que havia feito um corte moderno no cabelo, aprendeu um jeito fácil e seguro de usar a peruca, e no fim até gostou. Só não gostou da parte que o cabeleireiro opinou sobre raspar a cabeça, para isso teve que colocá-la de frente ao espelho e mostrá-la a real situação que não era nada agradável.
            _ Ficou linda amiga! – Flávia tentava animá-la de todas as formas – Nem parece peruca.
            _ Sério amiga! Não parece mesmo? – perguntava.
            _ Já menti para você? Claro que não parece.
            _ Que bom hein! Ótimo profissional, e além de tudo nos tornamos amigos!
            _ Sim! Ele é ótimo!
            Quando voltaram para casa de Roberta, a Patrícia saia na porta e as viu.
            _ Vizinha! – disse cinicamente fazendo as meninas pararem – Acordei com um grito hoje, o que foi que aconteceu?
            Roberta olhou para Flávia.
            _ Um rato! Que deve ter vindo do seu quarto! – disse entrando.
            _ Belo corte de cabelo! – gritou rindo para elas que ainda ouviram as risadas distantes.
            _ Que idiota! – disse Roberta.
            _ Está gostando de te ver assim.
            _ Ah, com certeza! Um rato... ai se fosse isso mesmo! – suspirou.
            _ Ela foi o rato, Roberta! – revelou.
            _ Como assim? Você quer dizer que ela entrou no meu quarto e cortou meu cabelo? E como não percebi isso?
            _ Não sei, mas vou descobrir.
            _ Já sei! – Roberta subiu correndo as escadas sendo seguida por Flávia – A água! Foi a única coisa que bebi antes de apagar completamente.
            Ainda havia um resto de água no copo que estava intacto desde o acontecido.
            _ Já sei para que vou levar essa água. – disse Flávia.
            _ Filha da... Arghhhh! – enraivecida – Que ódio! Ela vai me pagar.
            _ Acho que você teve sorte!
            _ Por que sorte?
            _ Sorte de ela não ter te matado.
            _ Como assim Flávia? Que história é essa?
            _ Foi a Patrícia que matou o Neo.
            _ Como é que é?


Continua...
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